segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Crescimento, morfologia e relevo urbano de Ganguçu /RS

O estudo a seguir teve como objetivo simular, através do uso de autômatos celulares (software CityCell), diferentes cenários de crescimento urbano, afim de determinar o grau de influência do relevo na forma da cidade. Considerando os locais de alta declividade como menos adequados ou até mesmo inadequados ao uso urbano do solo, também foi objetivo testar a influência que a imposição de restrições e proibições institucionais de uso teria sobre essa mesma forma.
Situada no Planalto Rebaixado de Canguçu (ou Planalto Sul-Riograndense), a cidade de Canguçu, como se pode observar através das figuras 01 e 02, apresenta um relevo movimentado com predominância de declividades entre 0 e 10%, mas com presença de declividades maiores (que chegam ao extremo de 50%) nas áreas periféricas a zona urbana (figura 03).
Os cenários simulados foram os seguintes:
Cenário 1: crescimento das cidades entre os anos de 1967 e 2013 considerando quatro faixas de variação de relevo (0 a 10%; 10,1 a 15%; 15,1 a 25% e acima de 25,1%) como resistências ambientais crescentes a urbanização (figura 04);
Cenário 2: crescimento da cidade entre os anos de 1967 e 2013 sem considerar o relevo como elemento de resistência a urbanização (figura 05);
Cenário 3: crescimento da cidade entre os anos de 1967 e 2013 considerando como resistência a urbanização as mesmas faixas de variação de relevo implementadas no cenário 1. Somadas a essas, restrição institucional de construção nas declividades de 10,1% a 15%, restrição maior ainda nas declividades de 15,1% a 25% e proibição de construção nas áreas de declividades maiores que 25% (figura 06);
Da análise das diferentes simulações, pode-se inferir que:
(i)  Entre os cenários 1 e 2 há uma variação de similaridade de aproximadamente 8% entre os crescimentos simulados e atual conformação da mancha urbana, com maior índice de acerto para o cenário 1 (com input das declividades). Considerando o pequeno espectro temporal utilizado esse é um valor significativo (figura 07).
(ii)   A variação de crescimento e forma da cidade entre os cenários 2 e 3 (não mensurada) é maior ainda, demonstrando a tendência de ocupação de áreas, que por suas declividades, não são indicadas ao uso urbano na mesma intensidade que as áreas mais planas, e que, por conseguinte, deveriam sofrer restrições de caráter institucional (figura 08).
(iii)     A imposição de restrições institucionais ao uso do solo direcionou o crescimento da cidade para áreas mais planas.
O experimento, mais do que demonstrar o que se sabe: a correlação entre forma do relevo e morfologia urbana, serve como um indicador de que apenas as restrições ambientais não são suficientes para coibir a ocupação de áreas impróprias ao uso urbano do solo, quer seja pelos riscos inerentes a própia ocupação, como também pelo maior custo de execução das infraestruturas urbanas necessárias. Sendo assim, há necessidade de regramentos institucionais que incorporem as diferentes declividades do terreno como um dos fatores de conformação do potencial construtivo. 



Figura 01 - Imagem de satélite da área urbana de Canguçu
sobreposta a Modelo Numérico de Terreno.



Figura 02 - Vista tridimensional do relevo urbano de Canguçu. 
Exagero vertical de 2,5 vezes



Figura 03 - Declividades da zona urbana de Canguçu. 



Figura 04 - Simulação do crescimento urbano de Canguçu
 entre  os anos de 1967 e 2013 com input do relevo.


Figura 05 - Simulação do crescimento urbano de Canguçu
 entre  os anos de 1967 e 2013 sem considerar o relevo.


Figura 06 - Simulação do crescimento urbano de Canguçu
 entre  os anos de 1967 e 2013, com input do relevo e com restrição 
institucional de ocupação de áreas com declividades superiores a 15%



Figuras 07 (esquerda) - diferenças nas áreas de crescimento entre os cenários 01 e 02
Figura 08 (direita) - diferenças nas áreas de crescimento entre os cenários 02 e 03









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